Alberto Tanganelli Neto, 78 - Butantã

que saudades tenho suas.

Você foi um dos meus primeiros icones... naquela fase tua de Capricho, blazer com jeans, Denise, Dico... ali pra mim era claro que você tinha personalidade.
Não me pergunte como eu pensava estas coisas aos 8 ou 9 anos de idade... sou meio "acelerado"... realmente não uma pessoa "comum"... sei disso.
Acho que uma das pessoas que cataram essa minha sensibilidade desde o começo foi a Tia Neide. (outro icone para mim... que passou por crises, assim como você e eu, e que jamais deixou de mostrar sua força - uma das maiores da familia). Amo a Tia Neide porque ela foi a primeira rebelde que apareceu na nossa vida e que sem dúvida muito mais que a gente, sempre foi mal interpretada pela família... Lembrei que dos sobrinhos todos, escolheu a você e a mim para seguir presenteando nos ultimos natais em que pôde. Por anos, me dava uma coleção nova de LEGO "para estimular minha inteligencia" e foi uma das mentoras em fazer uma vaquinha para comprar o tal Blazer caro pra Priscila. Que cabeça bacana ela já tinha.

Hoje sinto que a Tia Leonor tem medo de mim, por mais que essa frase possa parecer estranho. Sem dúvida é também um dos meus icones. Foi ela que me ensinou a amar o trabalho levando a gente pro escritório e colocando papel na máquina de escrever para a gente brincar. Pena que ela se escondeu desde que se aposentou nos problemas e neuroses dos outros... talvez aí o medo que de uns anos para cá tomou conta de parte de sua vida.

Lembro dos teus 775 pisados, da tua mochila Riska com rabiscos, dos teus cadernos, todos com anotações de coisas, bandas, marcas de perfume... e nomes varias e varias vezes repetidos pelas páginas. Lembro de um deles, era "Guizzi". Lembro dos livros de geografia com orelhas... tudo o que a mãe não queria! você sempre foi rebelde... tal rebeldia que te assustou por estes ultimos anos né irmã... admiro de verdade essa tua essencia rebelde... de não entender porque não se pode fazer um bolo as 4 horas da madrugada. Você é bon vivan, você é das coisas lindas e boas, que por coincidencia são caras.

A Priscila era a minha irmã e eu era o irmão da menina popular e desejada do Marechal... eu me lembro do meu primeiro dia de 5. série... estava mudando do primário para o ginásio. Deixaria um professor para ter 5 ou 6 deles, rotacionando pela sala... estava ficando mais próximo de você e me sentia orgulhoso.... no final da aula, nos encontramos no portão. Era a primeira vez que a gente estudava no mesmo horário e para mim isso era demais. Ali na saída do meu primeiro dia de ginásio você me perguntou: e aí? o que você achou?... me empolguei, comecei a te contar.... mas logo em seguida você trocou o assunto, ou deste teu jeito desantenado, logo percebia que eu estava falando para as paredes... hahahahah

Aquela menina que subia o microonibus da Rodézia com aqueles shorts de jeans rasgados e moletom na cintura, de novo o clássico 775 (ou lodon fog) amassado... tinha um ar de garota surfista, garota independente... uma dupla bacana, uma loira e você a morena...

Que sorte tivemos em encontrar a Cleide, Carlos Alberto e a Denise, o Dico, Leleco... O Alberto, pai deles, andando de bermudão pela casa, o jardim la dos fundos, o quarto do Dico rabiscado... A casa com bastante amarelo, cor preferida da Cleide... era a casa mais moderna da rua, desde já pela passarela que te levava da garagem até a sala ampla... a área cheia de plantas... a Life com suas orelhonas sempre molhada da água que bebia... Os drinks, os cigarros... as comidas... você foi a primeira a descobrir os verdadeiros modernos... os Dias. Que delicia era aquela casa.

Em alguns momentos a tua indiferença pelo pivete, pelo irmão mais novo e chato... me fazia gostar cada vez mais de você. Podia te definir como uma menina inconformada com a impossibilidade de não poder usar uma roupa descolada, porque era caro... Sempre soube que não eram as "marcas", Nike, Print Rip.... Zoomp que te importavam, senão desde o começo o teu bom gosto. E aí vinha de novo aquela rebeldia infantil bastante apropriada para teus 14 anos. Até o teu ódio pelo nosso sobrenome "Silva" sempre me encantou...


Os teus icones eram dos anos 60... era o Elvis, lembra? e depois o Patrick Swaize... E a tua jovialidade é o teu melhor...

Entre meus maiores sonhos sempre está você. E para 2008 não posso deixar de sonhar mais da Priscila para você mesmo. Esta nossa última década começou ali na Igreja dos Jardins e foi a década que os filmes europeus te apaixonaram, foi a época de se questionar a exaustão... de questionar o tema "aparencia" dessa sociedade enferma de padrões estéticos que vivemos...

Vejo um ano bastante lindo em 2008... um ano realmente dourado para um monte de gente e estamos incluidos nele. Quero para você tudo o que te faz bem, tudo o que seja prazeroso, bem assim do jeito que você sempre gostou...

te desejo do bom
e do melhor

o mesmo par de london fog de 1989. porque os pés você ja os tem aí com você.

te amo,

de seu irmão caçula e admirador secreto que dividiu quarto por mais de 20 anos,

Thiago